24 dezembro 2009

Os Sociopatas, os Sem-Noção e os Perdedores

Um artigo publicado a alguns meses atrás chamado The Gervais Principle provocou uma ampla discussão sobre como realmente funciona a estrutura e a saúde de qualquer organização humana.

O artigo, escrito por Venkatesh Rao, usa como ponto de partida os dilemas passados pelos personagens do The Office, e usa diversas situações retratados nos episódios para explicar os conceitos sob a ótica interpretada por Venkatesh.

Gervais é um dos criadores da série The Office, e o princípio criado por Venkatesh e nomeado como Princípio de Gervais diz basicamente que:
Sociopatas, por seus próprios interesses, deliberadamente promove Perdedores de desempenho superior para gerência média, conduz Perdedores de desenpenho inferior para papéis de Sociopatas, e deixa os Perdedores de desempenho mediano se virarem sozinhos.
A terminologia Sociopatas, Perdedores e Sem-Noção é uma semântica nova e controversa de Venkatesh, mas não foi criação dele. Ele usou uma classificação criada no Gaping Void que ele acredita refletir os conceitos apresentados:



Agora, com a definição dos termos apresentados, releia o Princípio Gervais acima e veja se isso se aplica com a sua experiência na sua empresa. :-)

O texto é um pouco prolixo e muito cínico e franco, o que fabricou críticas acaloradas por causa da classificação pejorativa e pelo rotulamento das pessoas, e também pela forma franca que expõe o interesse explícito do interesse de manipulação humana dos Sociopatas independente do julgamento de valor da intenção desta manipulação.

A exposição dos Sociopatas não é diferente da forma que Nicolau Maquiavel apresentou O Príncipe, só que quem leu O Príncipe normalmente considera este comportamento distante e apenas aplicável a quem realmente fosse um rei ou um príncipe. A leitura inocente de Maquiavel é comportamento clássico de um Sem-Noção que acredita obter receitas de lidar com seus Sociopatas. Os Perdedores vão achar o livro apenas chato... :-)

Os Perdedores são aqueles na base da pirâmide, que tem noção clara que estão fazendo uma escolha perdedora, entregando grande parte do seu esforço para lucro direto dos Sociopatas. Só que todo mundo começa a vida por aí, e muitos terminam a vida nesta posição, o que não é nenhum demérito, esta é uma posição de bastante liberdade para aprendizado e de liberar tempo para desenvolver interesses paralelos ao longo da vida.

A camada do meio, chamada Sem-Noção, é a mais controversa por ter pessoas na sociedade que trabalham duro e que ganham merecidamente salários altos. São formados por profissionais que desempenham por muitos anos muito acima do que as empresas esperam e que mantém um certo ar de humanidade ao tentar traduzir os comportamentos francamente desumanos dos comportamentos dos sociopatas em interpretações mais humanas para seus Perdedores. Ou seja, o típico comportamento da gerência média.


O artigo segue discutindo o desenvolvimento das camadas ao longo do ciclo de vida da empresa, e desenvolve um insight muito interessante: quando os Sem-Noção tomam conta da empresa esvaziando o espaço dos Sociopatas através da burocracia, ou ainda reduzindo os Perdedores para inchar sua influência trazendo mais Sem-Noção para perto deles, isto são sinais claros que a empresa está caminhando para implosão.


Venkatesh escreveu em seguida um artigo explorando um pouco mais a forma que a comunicação ocorre entre estes atores organizacionais: Posturetalk, Powertalk, Babytalk e Gametalk (traduzido para algo como discurso postural, e discurso de poder, conversa infantil, e comunicação como um jogo).

É muito interessante verificar que, de acordo com o tipo de conversa que ocorre entre as pessoas, fica trivial verificar qual posição cada pessoa trabalha na organização. Não vou entrar em mais detalhes aqui para não fazer este meu artigo ficar muito grande, então leiam os artigos originais descobrir mais sobre estas linguagens.

Se você achar interessante este assunto, não esqueça de contribuir pagando um café para o Venkatesh através de um link em seu blog. Ele merece nosso suporte por ter trazido este assunto a luz e conseguir através da controvérsia fazer todos nós pensarmos sobre o nosso papel em nossas vidas.

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